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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Pasta da Justiça vira símbolo da ex-Pasárgada.


Por Josias de Souza

Manuel Bandeira traduziu os anseios nacionais quando escreveu sobre seu desejo de fugir para Pasárgada, onde era amigo do Rei. É o que todos querem. Nem tanto pelos encantos do paraíso do poeta. A ginástica, a bicicleta, o burro brabo, o pau-de-sebo, o banho de mar, a beira do rio, a mulher desejada na cama escolhida… Tudo isso fica em segundo plano quando se tem a amizade do Rei.
Para gente como os empreiteiros, por exemplo, ser amigo do Rei significa mandar e, sobretudo, desmandar no governo. Ao contrário da Pasárgada de Bandeira, que “é outra civilização”, o Brasil idelizado pela turma da lama e das máquinas pesadas é a mesma terra incivilizada de sempre. Nela, há uma confraria sem regras nem estatutos. Uma associação na qual só há três tipos de confrades: os inocentes culpados, os culpados inocentes e os cúmplices.
No escândalo da Petrobras, os propinados, os propinadores e os grão-petistas imaginaram que tudo terminaria em nada, como costumava suceder na Pasárgadapremium em que sempre viveram. Súbito, deu chabu.
Engaiolados, Paulinho e Youssef piaram. Foram imitados por mais de uma dezena de criminosos confessos. Guiando-se pelo trinado, o juiz Moro acomodou os amigos do Rei nos colchonetes da PF. Com dores morais, executivos da Toyo Setal buscaram lenitivo na confissão. E a casa caiu.
Foi contra esse pano de fundo que advogados de empreiteiros presos procuraram o ministro petista da Justiça, José Eduardo Cardozo. Além de ser o superior hierárquico da PF, Cardozo integra o conselho político do Reino. Pode recordar à soberana e seus áulicos que não se consideram apenas amigos do Rei, mas donos da Corte. É como se ameaçassem: ou restaura-se a imoralidade ou pode faltar colchonete na carceragem da ex-Pasárgada.

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