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terça-feira, 15 de maio de 2012

Greve causa transtorno à população

A população natalense mais uma vez acabou como vítima de impasses entre os trabalhadores do transporte rodoviário e os empresários do setor. Apesar do alerta de que haveria paralisação desde a sexta-feira, muitas pessoas não conseguiram se programar, ou não possuíam outra forma de transporte. 
Adriano AbreuInício da manhã com paradas lotadas e longa espera pelo transporte que passava já cheioInício da manhã com paradas lotadas e longa espera pelo transporte que passava já cheio

Na sexta-feira passada, o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Passageiros (Sintro) emitiu nota informando sobre a paralisação. As reivindicações ocorrem no sentido de reajuste salarial para os funcionários. De acordo com o presidente do Sintro, Nastagnan Batista, o valor dos pagamentos estão congelados desde 2010.

Além disso, são apontados problemas como insegurança no trabalho e desacordo no pagamento de vales-alimentação. "Queremos ganho real e os empresários dizem que não têm condições de pagar", disse durante a manhã de ontem. O reajuste pretendido beira os 14%, enquanto os empresários oferecem 4,88%. 

Batista propôs a participação da Prefeitura de Natal para que haja um acordo entre as partes. "Os empresários dizem que não têm condições e a Prefeitura tem que sentar à mesa para negociar conosco", convocou o presidente do Sintro. Para ele, os empresários têm que provar que não há condições de oferecer o reajuste reivindicado.

De acordo com a Lei de Greve, durante uma paralisação, pelo menos 30% do serviço e dos trabalhadores têm que permanecer ativos para que a população não seja lesada gravemente. Ontem, isso não ocorreu. Nas primeiras horas da manhã, houve momentos em que quatro veículos estavam rodando para atender toda a demanda natalense. O presidente do Sintro justificou o fato dizendo que a categoria estava mobilizada. "A adesão dos trabalhadores é de 100%. A insatisfação é muito grande e dá ideia do tamanho da nossa insatisfação".

A juíza do Trabalho, Maria Auxiliadora Rodrigues, esteve presente ontem na garagem da empresa Cidade do Natal. O objetivo era verificar o cumprimento da frota emergencial para elaboração de um auto de inspeção. "Constatamos que alguns veículos chegaram a sair, mas acabaram depredados e voltaram. Os funcionários estão assustados e não querem sair para trabalhar. Iremos relatar isso", disse a magistrada.

O relatório inicial apontava que dos 13 veículos que deveriam ter saído no primeiro horário da manhã, sete foram às ruas. Dos sete, quatro retornaram. Em Parnamirim, dos cinco veículos da frota emergencial, um atendeu a população.  

População teve que recorrer a alternativas

O natalense virou-se como podia para chegar a tempo ao trabalho, à escola ou mesmo fazer o pagamento de algum boleto bancário. Uma alternativa era pegar carona ou um transporte opcional, como foi o caso do comerciante Francisco das Chagas Souza. Ele mora em Igapó, saiu de casa às 8 horas para fazer compras no Alecrim, e às 11 horas da manhã,  esperou por mais de 45 minutos por um transporte na rua Mário Negócio, para retornar para casa.
Adriano AbreuQuem optou pelo alternativo teve dificuldade de acessoQuem optou pelo alternativo teve dificuldade de acesso

Já o padeiro Paulo Bezerra de Oliveira veio do município de João Câmara, a 70 quilômetros de Natal, passar o dia das mães com a família em Natal, na Cidade da Esperança. Para voltar pra casa, chegou de 8 horas na parada de ônibus próximo à Praça Gentil Ferreira, no Alecrim, e só passava alternativo para São Gonçalo do Amarante. "Já telefonei avisando que ia chegar atrasado".

Gerente de uma loja de eletrodomésticos, Marcos Alexandre Assunção disse que dos 14 funcionários da loja, situada em frente à Praça Gentil Ferreira, três tinham faltado devido à greve dos ônibus. "Mas, nenhum funcionário nosso será prejudicado; é uma falta justificável". Marcos Alexandre disse que havia comunicado o problema à matriz, e que será encontrada uma maneira de compensar esse dia faltoso: "Eu mesmo vim de carona".

Vendedor de loja, Rodrigo Oliveira, disse que não precisou se deslocar de carona, porque tem moto, mas se fosse preciso dava carona a quem precisasse: "Não dei agora porque saí sem o capacete reserva". Mas, explicou Oliveira, a greve dos ônibus também traz outro problema: "Mesmo sem os ônibus havia engarrafamento no horário de pico", afirmou referindo-se à maior quantidade de veículos particulares nas ruas.

Com a falta de passageiros que tiveram de ficar em casa, o transporte opcional também estava andando quase sem usuários. As paradas de maior movimento da Cidade Alta e do Alecrim, que são normalmente cheias, contava-se nos dedos as pessoas que esperam por transporte: "Dia de segunda feira, aqui, de manhã, é cheio de gente", disse Jeferson da Silva, que tinha saído para pagar a conta de luz e esperava pelo menos 30 minutos pelo transporte, que normalmente "pegava em dez minutos".

Paralisação é marcada por vandalismo nas ruas da cidade

O motorista Francisco Canindé tem 57 anos e 23 de profissão em linhas de passageiros de Natal. Ontem, relatou estar com medo de ir à rua. "Já saí hoje pela manhã e fui arrancado do banco, quando obrigaram a desligar o carro. Agora o dono falou para eu ir de novo. Estou com medo, mas parece que vai ter escolta policial", afirmou o homem ontem pela manhã na garagem da empresa Cidade do Natal, a partir de onde conduziria a linha 40. O funcionário acrescentou que o vandalismo chegou ao pontou de ver os pneus cortados.
Adriano AbreuOs veículos que circularam na manhã de ontem, foram atingidos com pedras por um motoqueiroOs veículos que circularam na manhã de ontem, foram atingidos com pedras por um motoqueiro

"Eles estavam com alicates de corte. Esvaziamos o veículo, que estava com umas 90 pessoas, e voltamos à garagem", disse Canindé. Questionado sobre a autoria dos delitos, foi direto. "São colegas meus, lá do sindicato. Eles me agrediram porque não querem ver a gente rodando na rua", disse o motorista. Além do veículo conduzido por Canindé pelo menos outros três foram alvos de ataque.

De acordo com presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros (Seturn), Augusto Maranhão, indícios levam a crer que o Sindicato dos Rodoviários coordenou os atos de vandalismo. "Um táxi de placas de São Gonçalo do Amarante e duas motos estão pela cidade, com estilingues e baladeiras quebrando pára-brisas. Todos os indícios levam a crer que são pessoas ligadas ao Sintro", afirmou.

O presidente do Sintro, Nastgnan Batista, negou que tenha ordenado qualquer ataque. "Não estou sabendo de ataque algum. E mesmo assim não teria partido do Sintro, todos sabem que não é do perfil da presidência", disse. 

NEGOCIAÇÃO

O presidente do Seturn, Augusto Maranhão, atacou os argumentos apontados pelo Sindicato dos Rodoviários para motivar a paralisação. De acordo com ele, a negociação estava ocorrendo, quando foi surpreendido com a decisão de paralisação. "Inicialmente, acho uma covardia. Parar e reivindicar é justo, sentar na mesa de negociação, mais ainda. No entanto, romper o diálogo unilateralmente e fazer uma presepada dessa, tirando os 100% dos ônibus da cidade", afirmou.

Para ele, faltou cidadania ao Sintro. "Esse tipo de cidadania é o que tá faltando na classe trabalhadora. Parar do jeito que parou é um absurdo, eles estão cometendo um crime contra a sociedade. O direto de ir e vir está assegurado na Constituição".

Ele protestou ainda contra a agressão sofrida por um dos seus funcionários, o motorista Francisco Canindé. Para Maranhão, o ataque foi ordenado pelo Sintro.

O Seturn disse que entraria com um pedido de dissídio coletivo, caso não haja negociação. "Iremos à Justiça para que o desembargador decida quem tem razão. Antes disso, iremos procurar manter o diálogo com a categoria", informou.

Universidades suspendem aulas

Universidades públicas e particulares decidiram pela suspensão momentânea das aulas por causa da greve do sistema de transporte coletivo de Natal. A Universidade Potiguar (UnP) e os três campi do Instituto Federal de Educação Tecnológica (IFRN) em Natal suspenderam, ontem, as atividades pedagógicas no decorrer da manhã e no horário vespertino.

O chefe de Gabinete da direção do IFRN-Cidade Alta, John Freiras, informou que a instituição iria aguardar o desdobramento das negociações entre os sindicatos patronais e dos trabalhadores com a Procuradoria Regional do Trabalho, para tomar uma decisão definitiva.

Já o pró-reitor adjunto de Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Adelardo Medeiros, disse que as aulas não serão suspensas, por enquanto, "porque alguns alunos ainda estavam vindo" para o campus.

Mas, segundo Medeiros, houve um pedido "de compreensão aos professores para que não realizassem nenhuma prova ou avaliação" para não prejudicar os alunos faltosos. A orientação que se tem na UFRN é de se cumprir o calendário acadêmico, que só pode ser suspenso por determinação expressa reitora Ângela Paiva.

A UnP já havia divulgado uma nota em seu site de que em virtude da greve dos rodoviários em Natal,  as aulas do período vespertino  do dia de ontem estavam suspensas no Campus Natal. 

A greve não prejudicou o funcionamento da rede municipal de ensino, informou o secretário municipal de Educação, Walter Fonseca, porque os alunos, em sua maioria, são matriculados em escolas no próprio bairro onde reside e nos casos daqueles estudantes que precisam se deslocar para as escolas distantes de suas casas, "a Secretaria tem uma frota própria de veículos alugados", que transportam esses alunos.

Walter Fonseca disse que, atualmente, existem 60 ônibus alugados "que asseguram o transporte diário dos alunos". 

Trens urbanos param por reposição salarial

Os metroviários da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) iniciam greve a partir de hoje. O movimento de paralisação é nacional e atinge usuários do sistema em cidades como Belo Horizonte, Recife, João Pessoa, Maceió e Natal. O motivo para o protesto são os salários dos profissionais. A principal reivindicação nacional da categoria é a reposição salarial de acordo com a inflação, o que geraria um aumento de 5,1% nos vencimentos. Os profissionais também cobram gratificação de desempenho por passageiro transportado, plano de saúde e adicional noturno.

Na capital potiguar, além das exigências nacionais, os metroviários querem que o efetivo total, de quatro trens, volte a operar. Atualmente, há um trem em circulação, e três aguardando manutenção. A estimativa é que, com a paralisação, 3.500 pessoas fiquem sem o serviço em Natal.

Após a confirmação da greve pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias no Estado do Rio Grande do Norte (SINTEFRN), a CBTU informou que a escala com o funcionamento do sistema de trens urbanos. De acordo com nota enviada à imprensa, os trens circularão em quatro viagens, sendo a primeira saindo de Ceará-Mirim ás 5h20 com destino a Natal, a segunda sai da Estação Natal, no bairro da Ribeira ás 06h42 em direção a Parnamirim, retornando para Natal às 07h32 e a última viagem se dará ás 18h55 saindo da Estação Natal com destino a Ceará-Mirim.


fonte: tribuna do norte

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