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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Dilma pressiona e Febraban se retrata


Relatório da Febraban irritou a presidente Dilma. No mesmo dia em que pediu retratação, terça, participou de apresentação de Oficiais-gerais em Brasília (foto)
Foto: Gustavo Miranda / Agência O Globo

Relatório da Febraban irritou a presidente Dilma. No mesmo dia em que pediu retratação, terça, participou de apresentação de Oficiais-gerais em Brasília (foto)GUSTAVO MIRANDA / AGÊNCIA O GLOBO
BRASÍLIA e SÃO PAULO — A presidente Dilma Rousseff ficou irritada com a relatório distribuído na última segunda-feira pelo economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg — que colocou em dúvida, com ironia, a eficácia das medidas de estímulo ao crédito. Dilma exigiu, por meio do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que a instituição se retratasse publicamente. A nota divulgada na terça-feira pela Febraban desautorizando o relatório reflete o pedido de desculpas. Logo que constatou o mal-estar criado pelo relatório, noticiado na terça-feira pelo GLOBO, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, ligou para Mantega para tentar contornar a situação. Foi então informado de que, se as críticas tinham sido públicas, a retratação também teria que ser. Mantega deu prazo até o fim da tarde para a Febraban se manifestar.
Na nota, a Febraran desautoriza Sardenberg, afirmando que a análise do boletim não pode “ser interpretada como um posicionamento oficial da entidade ou de seus associados”. Na véspera, Sardenberg afirmara que “alguém já disse que você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber a água”, numa referência à pressão da equipe econômica para a redução dos spreads (diferença entre o que o banco paga para captar dinheiro e o que cobra do cliente) embutidos nos empréstimos e para o aumento do volume de crédito. Procurado na noite de segunda-feira pelo GLOBO, um interlocutor próxima da presidente Dilma rebateu: “você não pode obrigar um cavalo a beber água, mas ele também pode morrer de sede”.
Na avaliação do economista-chefe da Febraban, não há garantia de que a perspectiva de redução mais acelerada da Selic possa estimular uma “ampliação significativa da oferta de crédito doméstica (do país)”, e que o momento é de incerteza com a inadimplência e a crise financeira internacional.
Segundo interlocutores, a avaliação no Palácio do Planalto e da equipe econômica foi a seguinte: não seria aceitável que a Febraban “batesse” no governo por meio de um relatório amplamente divulgado e pedisse desculpas apenas nos bastidores. Por isso, Mantega disse a Trabuco que a entidade tinha até o fim da tarde para esclarecer o seu posicionamento. Por telefone e por e-mail, o presidente do Bradesco tentou amenizar a crise. Disse a Mantega que o relatório da entidade refletiu uma realidade de mercado e não se tratava de uma tentativa do setor de bater de frente com o governo.
“Gostaria de lhe reafirmar que a nossa posição é a mesma do governo em relação aos objetivos de ampliação do crédito e crescimento econômico”, disse Trabuco ao ministro.
Taxas cobradas por bancos caem levemente em março
Segundo fontes ligadas às instituições financeiras, a Febraban vinha avaliando desde o começo do dia como tratar do assunto, mas após o ultimato de Mantega optou por divulgar a nota. Embora contrariada, a presidente Dilma decidiu que nem ela nem Mantega deveriam vir a público comentar a briga com os bancos, mas deu um recado claro à Febraban: essa foi a segunda vez que o setor “pisou na bola”.
Na primeira vez, o presidente da Febraban, Murilo Portugal, veio a Brasília para uma reunião com a equipe econômica, onde seriam discutidas formas de reduzir o spread bancário. Portugal apresentou uma pauta com 23 reivindicações do setor privado para que o spread caísse no país e ainda saiu da reunião dizendo que “a bola estava com o governo”.
A pressão do governo sobre os bancos já produz algum resultado, mas ainda está longe da pretensão de derrubar de vez os juros na ponta do consumidor. É o que mostra uma pesquisa que será divulgada hoje pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e contabilidade (Anefac), considerando várias linhas de crédito (juros no comércio, cartão de crédito, cheque especial, CDC e empréstimo pessoal). A taxa média cobrada por bancos, financeiras e no comércio caiu de 6,33% ao mês, em março, para 6,25% em abril — um corte de 0,08 ponto percentual. Anualizado, aquele percentual chega a 106,99%.
fonte: O GLOBO

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